Texto Redigido pelo Irm.'. Raimundo Rodrigues
Como estudioso da filosofia, sabemos, de há muito, que Vico é o pai
da "Filosofia da História", estereotipando-a com princípios de uma
ciência nova.
Sabemos mais que a "Filosofia da História" é,
ainda agora, dominada por conceitos metafísicos, que dificultam a
compreensão dos leigos no assunto.
Vejam bem: falamos em conceitos metafísicos e, não, em "Conceitos Invencionistas". O verdadeiro historiador não inventa nada!
Aliás,
a "Filosofia da História" surge já no século XVIII, quando se chegou à
conclusão de que, do conjunto dos fatos históricos, se poderia tirar uma
lei geral do desenvolvimento da humanidade. Daí por que, pensamos nós,
os historiadores maçônicos podem mesclar seus trabalhos com
considerações gerais acerca da marcha evolutiva dos acontecimentos
maçônicos.
Isto, porém, não significa que alguém tenha o
direito de sair por aí "fabricando" uma história que lhe saia da
imaginação, buscando dar-lhe contornos de História verdadeira.
De
nossa parte, fazemos questão de gritar aos quatro ventos que não somos e
nem temos pretensões de chegar a ser historiador. Somos, isto sim,
aquele pesquisador que se interessa pela verdade histórica.
Se a História não aceita invencionices, a filosofia não admite mentiras. Desculpem-nos a força do termo.
O
certo é que se dizemos que a Maçonaria nasceu com os Essênios, ou com
os Templários, ou com os Collegia Fabrorum, estaremos afirmando algo que
não podemos provar, logo, podemos estar difundindo alguma coisa que
seja pura invencionice.
Se a História e a "Filosofia da História" não admitem inverdades, o que dizer, então, da Maçonaria?
O
que desejamos deixar bem claro é que só podemos falar em Maçonaria
Antiga, quando pudermos escudar-nos em documentos fidedignos.
O
mais antigo documento que se conhece da chamada Maçonaria Antiga, ou
Operativa, ou de Ofício é o Poema Régio, que é de 1390, portanto, século
XIV. Tudo o que se disser anterior a essa data não passa de
pressuposição.
É mister nos acautelemos com as invencionices
de quem não teve ou não tem coragem de investigar, de buscar a verdade
através de documentos que mereçam fé. Há muita gente que vai atrás do
ouvi dizer.
A verdade é que ainda há escritores Maçons que propagam que a "origem da Maçonaria" se perde nas "névoas da Antigüidade".
Nenhum
pesquisador honesto embarca na canoa furada daqueles que teimam em
afirmar que a Sublime Instituição existe há milhares de anos. Só os
"inocentes" podem acreditar na absurda afirmação de Anderson, no seu
primeiro livro das "Constituições", de que – Adão – nosso primeiro pai,
criado à imagem e semelhança de Deus, devia ter possuído as ciências
liberais, principalmente a geometria, escritas em seu coração. Baseado
nisto, ainda hoje, há quem ensine que a Maçonaria tem seu início no
Paraíso terrestre.
Jean Palou reconhece que as origens da
Maçonaria estão muito longe de serem claras e não poderia ser de outra
forma, e acrescenta: "Anderson faz remontar a Franco-Maçonaria a Adão,
sem dúvida por não poder ir mais longe e por lhe faltar a ousadia de
atribuí-la ao próprio Jeová".
É evidente que a falta de
documentos e registros dignos de crédito, envolve a Maçonaria numa
penumbra histórica, o que faz com que os fantasistas, talvez pensando em
engrandecê-la, inventem as histórias, sem pé nem cabeça, sobre os
primórdios de sua existência.
Há aqueles que ensinam que ela
teve início na Mesopotâmia, outros confundem os movimentos religiosos do
Egito e dos Caldeus como sendo trabalhos maçônicos. Há escritores que
afirmam ser o Templo de Salomão o berço da Maçonaria.
O que
existe de verdade é que a Maçonaria adota princípios e conteúdos
filosóficos milenares, que foram adotados por instituições como as
"Guildas" (na Inglaterra), Compagnonnage (na França), Steinmetzen (na
Alemanha). O que a Maçonaria fez foi adotar todos aqueles sadios
princípios que eram abraçados por instituições que existiram muito antes
da formação de núcleos de trabalho que passaram à história como o nome
de Maçonaria Operativa ou de Ofício.
O Irm:. Darley Worm, em
excelente trabalho intitulado "Nuvens Preocupantes nos Horizontes da
Maçonaria", assinala com muita propriedade que "Para obtermos a idade da
Maçonaria, temos de distinguir a Instituição, dos seus conteúdos, estes
sim, milenares, conforme alguns autores; eternos, segundo outros... Os
conteúdos que a Maçonaria assumiu, já eram milenares quando Salomão
nasceu na casa de Davi e é puro delírio febril alguns historiadores
falarem em Maçonaria Arcaica, Antiga ou Arqueológica. Os conteúdos com
que lidamos hoje, já eram veneráveis para as Escolas de Mistérios
(Elêusis, etc.), para os teosofistas, para os rosacruzes, para os
gnósticos, para os alquimistas, para os Collegia Fabrorum; ainda que
tenham um grande número de pontos em comum mas... nem Pitágoras, nem
Jesus, nem Platão, etc., eram Maçons, pela simples razão de que a
Maçonaria (como Instituição) nem havia sido criada".
De algum
tempo para cá, após a criação da Loja de Pesquisas Maçônicas "Brasil",
de Londrina, têm surgido historiadores e pesquisadores Maçons que se têm
dedicado, de corpo e alma, como lá se diz, à busca de documentos
primários ou secundários que possam trazer luzes aos mistérios que
envolvem a Maçonaria primitiva.
Frederico Guilherme Costa,
historiador maçônico de primeira água, no seu livro "Maçonaria na
Universidade-2", diz que "O conjunto de organizações de Ofício,
principalmente medievais, são conhecidas com o nome de Maçonaria
Operativa ou de Ofício. Sempre existiram, no passado remoto, associações
de operários ligados à arte de construir, mas não eram organizadas na
forma das futuras corporações com sentido corporativista. Alguns autores
sustentam o ponto de vista de que a primeira associação organizada por
rígidos estatutos, foi as dos Collegia Fabrorum romanas criadas no séc.
VI a. C.. Na antiga Roma os colégios representam corporações
profissionais tidas como fundadas por Numa Pompílio. Apesar de alguma
semelhança dos costumes dos colégios com a futura Maçonaria do período
operativo, nada nos autoriza a identificação destes colégios com a
futura Ordem Maçônica, sequer como paradigma".
Frederico
Guilherme Costa, depois de muita pesquisa, chega à conclusão honesta de
que sequer se pode tomar os Collegia Fabrorum como modelo, quando se
pensa em Maçonaria Operativa.
Já outros escritores, não
historiadores, afirmam doutoralmente que os Collegia Fabrorum são a base
onde repousa a Maçonaria Operativa.
É certo que os historiadores e os pesquisadores conscientes se baseiam, acima de tudo, nas Old Charges.
As mais citadas pelos bons autores são:
* Manuscrito de Halliwell ou Regius, séc. XIV
* Manuscrito de Cooke, séc. XV
* Manuscrito de William Watson, séc. XV
* Manuscrito de Tew, séc. XVI
Sabe-se que existem, na Grã-Bretanha, cerca de 87 manuscritos de Old Charges.
Seria, realmente, o Poema Régio, também chamado de Manuscrito de Hallliwell o mais antigo documento da Maçonaria de Ofício?
Os melhores autores, a aqueles em quem podemos confiar, dizem que sim. Citaremos apenas dois, para não nos alongar em demasia.
Le
document authentique le plus ancien date, lui, des annés 1390-1400;
c’est le fameux Peème Maçonnique connu également sous les noms de
Manuscrit Regius (Royal) ou Manuscrit Halliwell, (du nom de son prémier
éditeur)... (Serge Hutin, in "Les Francs Maçons", Collections Le Temps
qui Court – Éditions du Seuil – Paris, p. 53). *
O mais antigo
texto é o Regius, manuscrito real, como seu nome o indica conservado no
Museu Britânico de Londres... o Regius dataria dos anos 1388-1445 (Jean
Palou, "A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática", Ed. Pensamento,
tradução do francês, edição de 1964, São Paulo, p. 33).
Pode-se
supor que as Confrarias Alemãs de Construtores, cujas mais antigas eram
a de Magdebourg, criada em 1211 e a de Colônia, criada por volta de
1250, fossem organizações maçônicas. Vejam que dissemos ...pode-se
supor.
É certo que a maior dificuldade que se põe diante do
pesquisador honesto é a falta de documentos primários que lhe atestem a
existência, em determinada época, da instituição pesquisada.
Muitos
documentos primários se perderam na poeira inexorável do tempo. Muita
coisa deixou de ser escrita porque era preciso estabelecer a lei do
silêncio, como um meio de autodefesa das confrarias.
Quais seriam os segredos do Maçom operativo?
Cremos
que eram segredos exclusivamente profissionais, guardados com rigor,
sobre a arte de construir. É bem de ver-se que, na Idade Média, só se
conhece um tratado de arquitetura, totalmente incompreensível aos que
não fossem grandes conhecedores do assunto.
Finalmente, para
que se entenda a razão por que muitos documentos desapareceram, vamos
transcrever, numa tradução nossa, o que diz Serge Hutin, no seu "Les
Francs-Maçons", pág. 53:
A raridade de documentos maçons,
anteriores à Maçonaria especulativa, explica-se, sem dúvida, pelo
auto-de-fé realizado em 24 de junho de 1719, pelo pastor Desaguliers,
então o Grão-Mestre da Grande Loja da Inglaterra. Este pastor
protestante resolveu destruir todos os documentos que, a seu ver,
estivessem impregnados de "papismo" e, assim, dissimular as alterações
que ele já havia feito nas regras fundamentais da Maçonaria.
E quantos e quantos documentos antigos não teriam sido destruídos pela ignorância ou pela má fé?
Precatemo-nos,
todos os que amamos a verdade histórica, com as afirmações e
ensinamentos que não se estruturem em documentos que mereçam fé.
Não nos esqueçamos, jornalistas, articulistas, escritores, historiadores que verba volant sed scripta manent.
*
O documento autêntico mais antigo data dos anos de 1390-1400; é o
famoso poema maçônico conhecido igualmente sob os nomes de Manuscrito
Regius (Real) ou Manuscrito Halliwell, (nome de seu primeiro editor)...
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